SAL DA TERRA

 

Falar sobre o Evangelho é sempre bom. Está na hora de fazer disso um hábito: quando estiver entre amigos, procurar incluir algum assunto do Evangelho, para recordar Jesus.

 Ao se reunir para falar do Evangelho está se repetindo o comportamento dos primeiros cristãos que assim faziam para se lembrarem do Mestre. O que Ele falou, como falou, o que foi aprendido e apreendido. E, de tanto se falar, foi possível gravar a história na memória, passar através das gerações, em família, até chegar aos evangelhos escritos.

 É preciso falar de Jesus com brilho nos olhos e o coração sedento dessa água, cuja fonte jamais secará, conforme prometido por ele próprio à mulher samaritana à beira do poço de Jacó (Jo, 4:14).

 Hoje, deve ser motivo de júbilo poder ler os Evangelhos, e é mister fazê-lo, pois, só asssim será possível uma familiaridade com as palavras, com os textos, os estilos, as notícias, e se encantar com as histórias de Jesus, seus ensinamentos, sua presença nas entrelinhas de cada parágrafo.

 Dentre os ensinamentos de Jesus a seus discípulos, pode-se destacar uma informação trazida do Alto para todos, quando ele diz: Vós Sois o Sal da Terra (Mt 5:13)

 Como interpretar essa passagem? Vindo dEle trata-se de uma afirmação assaz significativa, merecendo um debruçar sobre ela, mesmo passados todos esses anos.

 No contexto dessa sentença, encontra-se o mais belo e significativo sermão pronunciado por Jesus, o das bem-aventuranças ou sermão do monte. Um verdadeiro tratado de felicidade. Esse capítulo (Mt, 5:1) é de grande profundidade e merece uma maior reflexão.

 Pode-se considerar o sermão do monte também como um remédio para a baixa auto-estima. É um verdadeiro estímulo à vida, uma proposta ou um roteiro a ser seguido para quem quer ser feliz, talvez por isso, os tradutores da Bíblia de Jerusalém preferiram colocar no lugar dos “bem-aventurados”, os “felizes”.

 O capítulo 5 do evangelista Mateus começa relatando que “Ele, vendo as multidões, subiu à montanha. Ao sentar-se, aproximaram dele os seus discípulos. E pôs-se a falar e os ensinava dizendo...”

 Quando se estuda o evangelho de forma minuciosa é preciso observar os gestos, as palavras de Jesus, o cenário, o contexto da época etc.

 “Subir ao monte”, talvez possa-se inferir que Jesus estivesse mostrando o caminho a seguir, que é sempre para frente, e para o alto. Todos querem subir também, mas ele sabe das dificuldades de cada um, então se abaixa ao nível dos presentes, sentando-se e deixando que os alunos se aproximem, sedentos de conhecimentos ou de sinais para aprenderem a subir. É possível que Jesus tenha lido no olhar dos discípulos: Senhor eu quero ser feliz, o que eu tenho que fazer? E a resposta vem em seguida:

 Quer ser feliz?

Seja pobre no espírito, quer dizer, desprenda-se da matéria, não acumule nada.

Seja manso, combata a violência, sendo o exemplo da brandura e mansuetude na Terra;

Seja aflito pelo consolo do Alto, que atende a todos sem distinção;

Seja sedento e faminto de justiça, porque ela se fará, no tempo certo e para todos;

Seja misericordioso para com todos;

Seja puro de coração, para entender os desígnios de Deus;

Seja pacificador, promova a paz em todos os momentos e lugares;

Seja perseguido e não perseguidor de ninguém, mas mantenha-se na justiça (correto).

Mesmo que te injuriem e persigam por causa da causa que abraçastes, seja feliz.

Seja alegre e regozije sempre, porque os profetas também passaram por isso.

Logo em seguida Jeus apresenta uma declaração divina sobre o conceito de Deus a respeito dos habitantes do planeta:

VÓS SOIS O SAL DA TERRA, VÓS SOIS A LUZ DO MUNDO.

É importante observar que, enquanto no sermão do monte os verbos estão, em sua maioria, no futuro, aqui eles estão no presente. Você É o sal da Terra. Você É a luz do mundo.

E o que significa ser o sal de terra?

O sal que se conhece é um cristal de rocha, transparente, multifacetado e com sabor.

Fazendo-se uma analogia entre ser sal da terra e ser Sal da Terra, começando pelo formato desse mineral, cada ser humano também deve ser transparente nas ações, no falar e no deixar-se transpassar pela luz que vem do Alto, procurando refleti-la para o próximo. Como diz Régis de Morais em seu livro “Espiritualidade e Educação”: quem opta pela opacidade não pode, como o cristal, enriquecer a luz que o atravessa.

O ser humano possui receptores na língua para esse mineral comestível. Por analogia, esse mesmo ser humano também nasce com receptor para o bem.

O sal é solúvel em água e bom condutor de eletricidade.

O homem, diluído no sentido de imerso no Fluido Cósmico Universal, é bom condutor do amor de Deus.

Por muito tempo o sal foi utilizado como conservante de alimentos na Terra.

Cada um deve saber conservar a mensagem do Cristo no planeta.

O sal apresenta-se inalterável, mantendo-se incorruptível. Nada o altera, nada o contamina, não se deteriora.

Assim, cada um deve evitar se alterar, perder o equilíbrio a ponto de se corromper e deteriorar os próprios valores.

O sal está presente na alimentação diária, oferecendo sabor, de forma invisível e na quantidade certa.

Ao homem, Sal da Terra, compete-lhe ser o responsável em dar sabor à vida do próximo, saber temperar, sem exagero, para não salgar e não se omitir, para que sua vida não fique insossa. Deve ser um hábito diário, mas invisível, de forma discreta e, muitas vezes, secreta, só Deus sabendo.

Para que tudo isso seja possível é imperioso lembrar que todos os seres humanos que povoam a Terra, são os seres inteligentes da criação. Espíritos imortais, em constante aprendizado, conforme os Espíritos afirmaram a Kardec na questão 76 de O Livro dos Espíritos.

Corroborando as ilações acima, pode-se citar alguns exemplos, presentes na literatura espírita, seres que vieram à Terra para ser sal e realizar um trabalho de amor, como a personagem Alcíone do livro Renúncia, Lívia do livro Há dois mil anos, Yvonne A. Pereira como médium exemplar e tantos outros, em especial aquelas mães que, sofrendo caladas, cuidam de seus filhos, sustentando uma família com o suor de seu trabalho e o agasalho do seu coração acolhedor.

Que cada um possa refletir sobre o quanto tem sido sal e quanto de sabor tem oferecido ao outro, em nome de Jesus, atendendo-O e se aproximando dEle.

REFERÊNCIA:

Bíblia de Jerusalém, São Paulo: ed. Paulus, 2012.

MORAIS, R. Espiritualide e Educação, Campinas, SP: C. Espírita Allan Kardec, 2002.

 

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